A violência é uma condição fundamental para a existência e expansão dos extrativismos. Esta afirmação não se refere apenas a casos isolados ou "excessos" pontuais, mas sim a uma característica estrutural e necessária destes modelos de apropriação da natureza e de acumulação de capital. O extrativismo, entendido como a apropriação em grande escala de recursos naturais para exportação (mineração, petróleo, monocultivos, etc.), gera e depende de múltiplas formas de violência para se impor e se reproduzir.
1. Violência direta e militarização:
A presença de forças de segurança do Estado e/ou grupos paramilitares é comum em regiões extrativistas. Assassinatos, ameaças, criminalização de líderes sociais, despejos forçados e repressão a protestos são manifestações frequentes. A militarização garante o controle territorial necessário para as operações das empresas.
2. Violência estrutural:
Os extrativismos aprofundam desigualdades sociais e econômicas. Geram pobreza, deslocamentos forçados, perda de soberania alimentar, contaminação ambiental (que afeta a saúde das populações) e concentração de terras. Esta violência "invisível" é sistêmica e atinge especialmente comunidades indígenas, camponesas e afrodescendentes.
3. Violência epistêmica:
Impor projetos extrativistas requer deslegitimar outros saberes e modos de vida. Conhecimentos tradicionais, visões indígenas sobre a natureza ("Bem Viver") e alternativas ao desenvolvimento são marginalizados ou ridicularizados. A natureza é reduzida a "recursos" a serem explorados.
4. Violência de gênero:
Mulheres e meninas sofrem impactos específicos: aumento da violência sexual (associada a acampamentos de trabalhadores), sobrecarga de trabalho de cuidado devido à contaminação, ruptura de tecidos sociais comunitários e repressão direta quando lideram resistências.
5. Violência institucional e jurídica:
Leis são modificadas para favorecer investimentos extrativistas, fragilizando proteções ambientais e direitos territoriais. Processos de consulta prévia são manipulados ou ignorados. A justiça costuma ser seletiva, criminalizando defensores ambientais e protegendo empresas.
Conclusão:
A violência não é um "efeito colateral" indesejado, mas sim o modus operandi do extrativismo. Reconhecer esta multidimensionalidade da violência é crucial para entender sua função na acumulação capitalista contemporânea e para fortalecer as resistências que defendem territórios e a vida. Alternativas genuínas devem partir do desmantelamento desta matriz violenta.