Lei do Pertencimento: Alicerce Oculto
Na visão das Constelações Sistêmicas, toda organização humana — incluindo agremiações políticas — é regida por leis invisíveis. A Lei do Pertencimento, cunhada pelo terapeuta alemão Bert Hellinger, afirma: "Todo membro que contribuiu para a existência de um sistema tem direito incondicional a um lugar nele. Excluí-lo gera um vazio tóxico que corrói o todo." Esta lei funciona em todo sistema - partido político é um sistema - independentemente se você acredite ou não nela.
Nas famílias, a exclusão de um ancestral manifesta-se como padrões de autossabotagem ou conflitos herdados. Nas organizações políticas, opera sob a mesma lógica: grupos apagados, ideias silenciadas ou histórias negadas transformam-se em "feridas sistêmicas" que minam coesão, legitimidade e eficácia.
Quando o Pertencimento é Respeitado: Estrutura que Fortalece
1. Inclusão de Minorias Estruturais
- Dinâmica: organizações que institucionalizam a diversidade — por meio de cotas, comitês multissetoriais ou políticas de escuta ativa — reconhecem que vozes marginalizadas são parte constitutiva do sistema.
- Efeito: surgem políticas públicas mais aderentes à realidade e maior engajamento popular, pois o sistema reflete a sociedade que serve.
2. Honra à Memória Fundadora
- Dinâmica: quando fundadores e dissidentes históricos são simbolicamente valorizados (em documentos, formação de quadros ou narrativas oficiais), preserva-se a identidade original sem fossilizá-la.
- Efeito: estabilidade ideológica e redução de cisões, pois o passado é integrado como alicerce, não como ameaça.
3. Equilíbrio Geográfico e Geracional
- Dinâmica: distribuição equitativa de recursos e poder decisório entre núcleos regionais e diferentes gerações (jovens, veteranos).
- Efeito: sustentabilidade organizacional e inovação contínua, evitando centralismos que asfixiam potencialidades locais.
Quando o Pertencimento é Violado: Sombra que Divide
1. Purga de Dissidências Internas
- Dinâmica: expulsão de correntes críticas ou marginalização de grupos que questionam lideranças hegemônicas.
- Consequência: nasce um "fantasma sistêmico": os excluídos tornam-se energia bloqueada, gerando novas agremiações rivais que repetem os mesmos conflitos do sistema original (efeito de duplicação patológica).
2. Culto à Liderança Única
- Dinâmica: Quando uma figura concentra simbologia, recursos e tomada de decisão, anulando contribuições coletivas e tradições históricas.
- Consequência: crise existencial pós-liderança: o sistema definha como um corpo sem órgãos, perdendo identidade e capacidade de regeneração.
3. Negligência Estratificada
- Dinâmica: desprezo crônico a bases regionais ou temáticas (ex.: áreas rurais, pautas ambientais), tratadas como "apêndices" menos relevantes.
- Consequência: boicotes passivo-agressivos, perda territorial e radicalização de bases — sintomas clássicos da lealdade invisível aos excluídos.
Preço Sistêmico: Dados que Falam
- Organizações com altos índices de expurgos internos têm três vezes mais risco de fragmentação em 5 anos.
- Agremiações que implementam cotas de gênero/etnia apresentam mais retenção de filiados.
- A maioria dos cidadãos desconfiam de organizações onde "discordar é risco de exclusão".
Conclusão: Reconstruindo o Tecido Coletivo
A saúde de uma organização política não se mede por vitórias eleitorais, mas por sua capacidade de integrar contradições. Como ensina a filosofia sistêmica:
"O sistema só cura quando os ausentes são reconduzidos à mesa."
Caminhos práticos:
- Tribunais de Ética Inclusivos: mecanismos que escutem dissidências antes de julgá-las.
- Memória Viva: arquivos públicos que celebrem contribuições plurais, não apenas narrativas dominantes.
- Auditorias Sistêmicas: mapear se recursos e poder fluem para todas as "células" do organismo.
A democracia não é feita de unanimidade — mas de pertencimento negociado. Onde um lugar é negado, nasce uma crise. Onde todos são acolhidos em sua diferença, brota resiliência.