O governo de Nicolás Maduro na Venezuela é frequentemente caracterizado como um experimento de esquerda que fracassou, mas essa narrativa simplista ignora as complexidades da realidade política, histórica, econômica e social do país. Ao contrário do que muitos acreditam, o fracasso do governo Maduro não se deve à implementação de ideias genuinamente de esquerda, mas, em grande medida, à influência direta e indireta de forças de direita, tanto internas quanto externas. Este texto apresenta argumentos, com exemplos claros, que demonstram como o governo Maduro não é um governo de esquerda autêntico e como a direita — nas múltiplas formas — é a principal responsável pela crise venezuelana. Vejamos:
### 1. Apropriação do Discurso de Esquerda
Maduro utiliza o discurso de "socialismo do século XXI", mas, na prática, não implementou reformas estruturais que redistribuíssem o poder econômico e político. Por exemplo, a elite econômica venezuelana, como os proprietários de grandes cadeias de supermercados, manteve a influência intacta.
### 2. Corrupção Institucionalizada
O escândalo envolvendo a PDVSA (companhia estatal de petróleo), com bilhões de dólares desviados, demonstra que o governo não redistribuiu recursos, mas permitiu o enriquecimento de altos funcionários e empresários aliados.
### 3. Dependência do Petróleo
Em vez de diversificar a economia, Maduro continuou a priorizar a exportação de petróleo. Por exemplo, 95% das exportações venezuelanas ainda dependem do petróleo, um modelo herdado de governos anteriores e típico de economias neoliberais.
### 4. Ausência de Reforma Agrária
A estrutura agrária permaneceu praticamente intacta. Por exemplo, grandes latifundiários ainda possuem vastas extensões de terra, enquanto agricultores familiares enfrentam dificuldades sem apoio estatal consistente.
### 5. Militarização do Estado
A militarização é evidente no controle de ministérios estratégicos por militares, como o Ministério de Alimentação. Isso reflete a lógica de controle autoritário, não uma democratização de funções políticas.
### 6. Repressão aos Movimentos Populares
Movimentos como a "Corrente Revolucionária Bolívar e Zamora" foram reprimidos por criticar o governo Maduro, demonstrando que qualquer dissidência, mesmo à esquerda, é combatida.
### 7. Alianças com Elites Econômicas
Empresas como o Grupo Polar, um dos maiores conglomerados alimentícios, continuam a operar com privilégios, demonstrando alianças entre o governo e elites empresariais.
### 8. Privatizações Ocultas
Maduro promoveu privatizações em setores como mineração e telecomunicações. Um exemplo é o Arco Mineiro do Orinoco, onde multinacionais foram autorizadas a explorar recursos naturais.
### 9. Colapso dos Serviços Públicos
Hospitais venezuelanos, como o Hospital Universitário de Caracas, sofrem com falta de insumos, médicos e infraestrutura. Isso reflete negligência estatal, não prioridade ao bem-estar coletivo.
### 10. Autoritarismo como Método
A dissolução da Assembleia Nacional em 2017, substituída pela Assembleia Constituinte controlada pelo governo, é o exemplo claro de concentração de poder autoritário.
### 11. Falsificação da Participação Popular
Os conselhos comunais, criados para promover a participação popular, foram esvaziados de poder e transformados em instrumentos de vigilância estatal, como denunciado por líderes comunitários.
### 12. Falta de Planejamento Econômico
A hiperinflação, que ultrapassou 1.000.000% em 2018, é um exemplo da ausência de um planejamento econômico sustentável para proteger os mais vulneráveis.
### 13. Concentração de Poder
A reeleição de Maduro em 2018, sob acusações de fraude e ausência de competição política real, demonstra a centralização do poder no Executivo.
### 14. Uso do Populismo como Ferramenta
Distribuições esporádicas de alimentos via programas como os CLAPs (Comitês Locais de Abastecimento e Produção) são usadas como ferramentas de controle populista, não como políticas estruturais de combate à fome.
### 15. Sabotagem Externa da Direita Global
As sanções econômicas impostas pelos EUA, especialmente contra a PDVSA, agravaram a crise econômica e impediram a importação de alimentos e remédios.
### 16. Ação de Oligarquias Locais
Empresários alinhados à direita, como Lorenzo Mendoza, dono do Grupo Polar, foram acusados de boicotar a distribuição de alimentos para desestabilizar o governo.
### 17. Distorção da Economia Informal
A proliferação de mercados paralelos, como o "bachaqueo" (revenda de produtos subsidiados a preços altos), reflete a desorganização econômica e favorece intermediários oportunistas.
### 18. Desvalorização Salarial
Em 2022, o salário mínimo venezuelano equivalia a cerca de 5 dólares mensais, tornando impossível para os trabalhadores atenderem às suas necessidades básicas.
### 19. Perseguição à Dissidência
A prisão de figuras da esquerda crítica, como o sindicalista Rubén González, demonstra que o governo reprime quem tenta lutar pelos direitos dos trabalhadores.
### 20. Sofrimento da Classe Trabalhadora
A escassez de alimentos e medicamentos afeta desproporcionalmente os trabalhadores e os mais pobres, contradizendo qualquer ideal de justiça social.
### 21. Alienação da Juventude
Milhões de jovens venezuelanos migraram para outros países em busca de oportunidades, como é o caso de milhares que atravessaram a fronteira para a Colômbia.
### 22. Controle de Mídia Estatal
A emissora estatal VTV é usada exclusivamente para propaganda governamental, sufocando o debate plural que seria esperado em uma democracia socialista.
### 23. Desprezo pela Educação Crítica
Universidades públicas, como a Universidade Central da Venezuela (UCV), enfrentam cortes orçamentários severos, dificultando a formação de uma educação crítica e emancipatória.
### 24. Criação de Oligopólios
Empresários aliados ao governo controlam setores estratégicos, como a distribuição de alimentos, através de contratos exclusivos e privilégios fiscais.
### 25. Fuga de Cérebros
Profissionais altamente qualificados, como médicos e engenheiros, abandonaram o país devido à falta de condições de trabalho e baixos salários, enfraquecendo o desenvolvimento nacional.
### 26. Retirada de Direitos Trabalhistas
A flexibilização de horários e a ausência de reajustes salariais reais enfraqueceram os direitos dos trabalhadores, especialmente em setores como mineração e transporte.
### 27. Destruição do Meio Ambiente
O Arco Mineiro do Orinoco é um exemplo de destruição ambiental, onde comunidades indígenas foram deslocadas e ecossistemas devastados para favorecer corporações.
### 28. Falta de Solidariedade Internacional
A Venezuela perdeu credibilidade em instituições como a UNASUL e o MERCOSUL, isolando-se politicamente na América Latina.
### 29. Repressão à Imprensa Livre
Jornais independentes, como "El Nacional", foram forçados a fechar devido à repressão estatal e à falta de acesso a papel jornal.
### 30. Estímulo ao Egoísmo Exacerbado
A crise econômica levou à proliferação de práticas egoísticas de sobrevivência, como revenda de produtos básicos, em vez de fomentar solidariedade comunitária.
### 31. Desigualdade Persistente
Enquanto a maioria da população enfrenta pobreza extrema, altos funcionários do governo e empresários aliados continuam a acumular riqueza, aprofundando as disparidades.
### 32. Alienação Cultural
A instrumentalização de ícones como Simón Bolívar para legitimar o governo alienou a população, distanciando-a da conexão autêntica com a própria história.
### 33. Longevidade no Poder
Maduro permanece no poder desde 2013, sem alternância democrática significativa, uma característica típica de regimes autoritários, não de democracias socialistas.
### Conclusão
O governo de Nicolás Maduro não pode ser considerado o exemplo de esquerda em ação, mas sim um regime que utiliza retórica progressista para encobrir práticas autoritárias e neoliberais. As falhas não decorrem de um projeto genuinamente socialista, mas da combinação de sabotagem da direita interna e externa, práticas corruptas e políticas econômicas que beneficiam elites. Culpar a esquerda pelo fracasso de Maduro é perpetuar a narrativa que deslegitima os verdadeiros ideais progressistas e ignora a responsabilidade histórica da direita na crise venezuelana.